METODOLOGIA

Quando aqui se estabelece uma metodologia para aplicação dos Jogos transversais, pensamos não como um roteiro ou caminho fechado que deva ser seguido rigidamente para atingir seus objetivos, porém assim  estabelecemos como um exemplo de experiência que vem dando resultado e que pode e deve ser questionada, ampliada e até modificada. Quando pensamos então nos Jogos Transversais como proposta de abordagem para a Educação Física Escolar, pensamos primeiro nas condições ideais para o seu desenvolvimento. E o ideal é que esse desenvolvimento se dê dentro dos princípios da transversalidade. Nesta perspectiva, onde a união faz a força, onde as áreas do conhecimento se entrecruzam para atingirem em sua totalidade os temas sociais relevantes, surgem às condições mais favoráveis para execução dos fins a que se propõe o processo ensino-aprendizagem. A organização dos Temas Transversais sob forma de projetos ou de temas geradores também atendem a essa demanda. Destacamos ainda que a divisão da aula foi adotada para melhor compreensão didática e que o desenvolvimento da aula se processa de forma contínua.  . Ressaltamos ainda que nosso trabalho é desenvolvido para o 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, porém temos desenvolvido experiências com todos os seguimentos e  etapas de ensino. Inicialmente, como parte primeira de cada aula, definimos como primeira etapa e de fundamental importância para o sucesso dos Jogos Transversais, a contextualização do Tema Transversal a ser abordado. Essa contextualização se refere a criar um ambiente favorável para o desenvolvimento da aula e dos jogos. Dividimo-la em três partes, a constatação, o enriquecimento e a estimulação. A constatação é a etapa que visa detectar que grau de conhecimento os alunos possuem  sobre o tema a ser abordado. Ela se dá através de perguntas básicas relacionados ao tema (Ex. Tema: Ética; perguntas: Quem sabe dizer o que é ética? Alguém poderia dar um exemplo?). A segunda parte é o enriquecimento através da utilização de um material de apoio. Esta parte pode se dá sob diversas formas, ou seja, através da leitura um pequeno texto, de uma reportagem, uma música, uma fábula, um caso, um velho ditado, um poema, um provérbio, ou até mesmo uma pequena frase, que esteja relacionado ao tema ou a reflexão proposta pelo jogo. Pode se dar também através da exibição de  uma imagem, foto ou um simples desenho. A terceira parte, que é a estimulação, ocorrerá exclusivamente pela prática dos Jogos Transversais, visando sempre a segurança e possibilitando  a inclusão de todos. A prática dos jogos nada mais é do que, a construção de  situações didático-metodológicas  que buscam valorizar e potencializar a capacidade de questionar, de debater, de refletir sobre os temas sociais em questão, ou seja,  situações de aprendizagem que buscam garantir aos alunos o desenvolvimento das capacidades necessárias à construção progressiva de conhecimentos  para uma atuação pautada por princípios da ética democrática. Todos os jogos podem e devem ser adequadas as condições sócio-cognitivas dos alunos e as suas realidades locais e coletivas. Variações poderão surgir. Esperamos também que, principalmente, possam servir de inspiração para que novos jogos sejam criados por qualquer aluno, profissionais ou pessoa que com eles simpatize e os adote.  A segunda e última etapa é a reflexão, que  acontecerá  após cada  jogo e/ou ao final da aula, preferencialmente nos momentos de recuperação e descanso, buscando fazer uma ligação do  tema com o jogo e a realidade individual e social, ou seja, com a vida de seus praticantes, buscando sempre que possível propor mudanças para melhorar as condições existentes, tanto endógenas quanto exógenas. É neste momento  que serão confrontados os valores definidos no texto constitucional e os valores que cada aluno trás consigo, para que a partir desse confronto, possam eleger seus novos valores. Após a reflexão teríamos então como resultado as propostas ou sugestões direcionadas para as resoluções dos problemas sociais apresentados ou de apontamentos sobre qual a melhor conduta, comportamento e/ou atitude a ser adotada ante a questão exposta no momento e contexto histórico-cultural atual.  Segundo os PCNs (BRASIL, 1998), o fato de os alunos serem crianças e adolescentes não significa que sejam passivos e recebam sem resistência ou contestação de tudo o que implícita ou explicitamente se lhes quer transmitir; e  que mesmo nas séries iniciais é possível oferecer informações, vivências e reflexão sobre as causas e as nuanças dos valores que orientam os comportamentos e tratá-los como produtos de relações sociais, que podem ser transformados. Inicialmente nem todos os alunos de uma turma, ou apenas alguns poucos, terão um nível de consciência crítica favorável as devidas reflexões, porém à medida que esse trabalho for se desenvolvendo isso irá acontecendo de forma lenta e gradativa. Cada jogo transversal contém uma ou mais reflexões que podem ser adaptadas e até serem substituídas, tendo o devido cuidado de não deixar de fazer sentido com o respectivo jogo. As adaptações deverão sempre buscar uma adequação ao nível de consciência e ao vocabulário dos seus alunos.
Em 2024, após a maior aproximação com a Pedagogia Freiriana, houve uma atualização do método Jogos Transversais. Vamos a ela:



O método antigo não sofreu grandes alterações e sim pequenos ajustes. Sendo assim, serão justificadas essas mudanças. No primeiro momento, percebe-se que a estrutura básica do método (Contextualização e Reflexão), foi mantida. Elas representam dois momentos de “roda de conversa”. No interior da “contextualização”, as fases da “constatação”, “enriquecimento”, “estimulação”, foram substituídas por “diagnose”, “aprofundamento” e “conexão”, respectivamente. Essas mudanças representam apenas uma busca por uma terminologia mais apropriada, segundo as concepções do autor. Abrir-se-á um parêntese para a troca do termo “estimulação” para “conexão”. O primeiro sempre pareceu distante do que representa o jogo. Já a conexão, referindo-se ao jogo, pode-se dizer que é a conexão do tema com o lúdico, com a nossa essência. Na verdade, a principal mudança foi a inclusão de uma nova fase chamada de “transformação”. Nessa fase, o educando terá a oportunidade, ou melhor, será estimulado a propor mudanças nas regras dos jogos, visando a recriação segundo sua vontade. O jogo como metáfora da vida, simulação lúdica da realidade, já citado anteriormente, nos faz relacionar o que ocorre no jogo a realidade vivida do participante. Nessa relação em que se percebe a possibilidade de transformação do jogo, pode-se perceber também, principalmente com a ajuda do educador, que é possível transformar a referida realidade social. É importante ressaltar que o educador deverá estar atento as alterações sugeridas, para que essas não venham atentar contra a segurança dos participantes. Essa nova fase visa aumentar a participação do educando no processo ensino-aprendizagem, tornando esse processo mais horizontal, empoderando esse aluno, buscando desenvolver sua autonomia, dando voz, caminhando na direção de uma educação libertadora (Freire, 1987), indo na direção contrária de uma educação bancária.

Na fase da “reflexão” (roda de conversa 2), anteriormente já era feito referência a uma reflexão endógena e outra exógena, porém, muitas das vezes, nos JTs propriamente dito, só definíamos como exemplo uma reflexão geral. No método atual verificou-se a importância de trazer as duas questões reflexivas bem definidas: uma no campo pessoal e outra de caráter social. No pessoal, a pergunta é direcionada para que os educandos olhem para o seu interior e analisem suas condutas, atitudes, emoções, reações, etc, buscando uma reflexão se o seu comportamento está em concordância com os princípios eleitos (exemplo: Jogo lixo no chão? Por quê?). No social, as reflexões serão voltadas para a solução dos problemas que são nossos e repercutem no campo social (exemplo: Como podemos resolver o problema do lixo no planeta?). Uma questão está ligada a outra, porém nem sempre é percebida pelo educando.